Verdades e Mentiras Secretas
Jota.Coelho, 25.02.24
Casos de mentiras e patranhas secretas
NOTA-PRÉVIA:
1 - A morte do activista russo, Alexey Navalny, acontece num momento de graves contradições da política mundial. As ingerências de países poderosos na vida interna de outras nações é por demais criminosa e atenta contra a estabilidade e a paz no mundo.
Lamentamos o desaparecimento de uma pessoa corajosa e na primavera da vida. Mas, as consequências das suas pretensões políticas liberais, de sentido oposto aos padrões das estruturas duma nação poderosa e rica, muito cobiçada pelas nações vizinhas, são sempre perigosas e imprevisíveis. Pois, a Rússia foi palco da ganância de poderosos exércitos externos, desde as invasões napoleónicas aos exércitos dos impérios vizinhos e da Alemanha de Hitler, que causaram sofrimento e dor além das dezenas de milhões de mortos e destruição das suas infraestruturas, com efeitos nefastos na economia e na segurança das populações. Curiosamente, temos que reconhecer que a Rússia nunca se expandiu para a Europa ocidental!
2 - As grandes potências armamentistas sempre tiveram essa pretensão de dominar para um melhor posicionamento estratégico geopolítico. Como em todas as guerras e ingerências, são os peões que acabam por sofrer as consequências, muito mais gravosas quando estão em causa possíveis actos de traição.
3 - Estamos muito dependentes das campanhas informativas formatadas pelas poderosas cadeias de comunicação social, cujos objectivos são incutir na população uma vertiginosa sensação de verdades irrefutáveis que nos levam a aceitar essas notícias como verdadeiras. O perigo está no efeito castrador da criação mental de cada um, ao perder as capacidades de raciocínio e o critério da análise lógica para questionar se aquilo é falso ou verdadeiro.
Ora, vem este verbo por analisar as contraditórias notícias vindas a público, por causa do hipotético envenenamento a bordo de um avião russo, do activista russo, Alexei Navalny, logo apoiado por médicos alemães que exigiram a sua transferência de Moscovo para um hospital de Berlim, onde foi tratado.
- “O Ministério Público russo pediu à Alemanha dados sobre o estado de saúde do opositor Alexei Navalny, que está em coma num hospital em Berlim após um provável envenenamento, indicando, porém, não ver "qualquer evidência de atos criminosos".
- Hospital de Berlim confirma alta de Alexei Navalny
23 set, 2020 • Redação com agências
O russo, de 44 anos, terá sido envenenado através de uma garrafa de água que ingeriu no hotel onde estava alojado em Tomsk, na Sibéria.
4 - Por consequências temporais na evidência noticiosa, temos em equação dois casos de detenções políticas de sinais opostos e com visões bem diferentes no espaço político:
a) - Alexei Navalny, opositor e activista russo;
b) - Julian Assange, jornalista americano que divulgou documentos considerados secretos.
Anotações de Joaquim Coelho
1º - O caso do desmaio de Alexei Navalny
Neste caso os autores desta campanha pretendem que o desmaio do blogger Alexei Navalny se deveu a envenenamento com o produto químico Novitchok, que teria sido feito pelas autoridades russas à entrada para o avião em Tomsk.
Alexei Navalny, que desmaiara a bordo de um avião que o levava, em 20 de Agosto de 2020, de Tomsk para Moscovo, segundo diferentes noticiários, teria sido envenenado depois de ter tomado chá no aeroporto ou bebido água de uma garrafa que lhe fora dada pela mulher.
Esse desmaio levou ao aterrar de urgência noutra cidade siberiana, Omsk. Depois de observado num hospital desta cidade, uma equipa médica deste concluiu que não tinha havido envenenamento, mas a mulher e o staff de apoio de Novalny exigiram que ele «fosse para um hospital independente de sua confiança, na Alemanha, porque o hospital russo em que estava não lhes oferecia essa confiança, e poderia estar a reter o paciente para desaparecerem os vestígios do veneno».
O governo russo concordou com a aterragem de um avião alemão em Omsk com médicos alemães, do Hospital Charité, de Berlim, para o levarem para esta cidade.
Anteriormente, os médicos do hospital russo não tinham autorizado essa viagem por poder ser perigosa para o paciente. O governo russo respeitou a decisão médica, que foi acompanhada pela recepção no hospital de Omsk dos médicos alemães do Charité que tinham vindo no avião. No dia seguinte, 22 de agosto, a direcção clínica do hospital de Omsk, depois da estabilização do paciente, acabou por concordar com o seu transporte. «O estado do paciente é estável e, tendo em conta o pedido da família para autorizar a sua transferência, decidimos que neste momento não nos opomos à sua transferência para o centro hospitalar indicado pelos familiares». A família e a equipa alemã garantiram que assumiriam toda a responsabilidade no transporte. De acordo com uma declaração do médico-chefe do hospital de Omsk, Aleksandr Murakhovsky, os médicos alemães disseram numa carta que a condição de Navalny permanecia estável, mas era séria, e agradeceram aos seus colegas russos por terem salvo a sua vida.
Os médicos do hospital de Omsk também «forneceram aos médicos da clínica alemã os resultados dos testes de laboratório e amostras de biomateriais de Navalny. Isto permitiu aos especialistas alemães terem uma anamnese completa do paciente, para conhecer toda a dinâmica clínica de seus sinais vitais».
O hospital de Berlim onde ficou sob observação acabou por dizer, no dia 24 de Agosto, que o político russo sofrera uma intoxicação (não falaram em envenenamento). O prognóstico sobre Alexei Navalny, feito pelos médicos do Charité, permanece reservado, não podendo ser excluída a possibilidade de efeitos a longo prazo que afectassem particularmente o sistema nervoso central. No dia anterior, o hospital referira que a recuperação deixaria consequências e que nos próximos meses não poderia retomar a sua actividade política.
A construção da Mentira
A conferência de imprensa, planeada para a manhã de 25 de Agosto de 2020, foi cancelada sem explicações. Depois, o governo alemão mudou Navalny para um hospital militar em Berlim. Rapidamente o diagnóstico passou a ser outro – envenenamento pelo Novitchok.
De acordo com o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, laboratórios especiais na França e na Suécia detectaram o agente nervoso em amostras retiradas do organismo de Navalny, confirmando o que tinha sido afirmado antes pela Alemanha.
Segundo o chefe da diplomacia de Berlim afirmou em 6 de Setembro, «Moscovo teria alguns dias para dar respostas». Se não o fizesse a União Europeia iria discutir sanções à Rússia. E usou o gasoduto Nord Stream 2 como arma de pressão, que a chanceler alemã recusou – depois de a Rússia ameaçar exercer represálias – garantindo que a Alemanha apoiava a conclusão do projecto da instalação do gasoduto que liga a Rússia à Alemanha.
Os Estados Unidos e vários países europeus têm uma visão negativa do novo gasoduto, que irá duplicar o Nord Stream 1, já em operação, porque «vai tornar a Alemanha e a UE mais dependentes da Rússia»...
O reactivar agora desta questão é suscitada pela recente detenção de Navalny – detenção essa que era esperada pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro de que fora acusado, que já transitaram em julgado anteriormente, com a aplicação de uma pena suspensa. A violação das regras da liberdade condicional, muito anteriores ao incidente no avião, levou agora a nova decisão judicial de prisão efectiva.
As manifestações que têm ocorrido, a pretexto da exigência da libertação do blogger russo, têm um conteúdo de confrontação e procuram provocar a repressão policial. Numa das manifestações participaram diplomatas da Alemanha, Suécia e Polónia na capital russa que, por isso, foram expulsos do país. O embaixador da Rússia à UE declarou que seria difícil «imaginar uma situação em que alguém do meu staff pudesse participar [em Bruxelas] em tal tipo de manifestação, mesmo como observador».
As Patranhas da UE
A questão central nos dias de hoje é que a UE exigiu à Rússia que investigue o «envenenamento». Ora, já por várias vezes a Procuradoria russa pediu à Alemanha que lhe fossem enviadas as provas do invocado crime para proceder a uma investigação. E a resposta acabou por ser que Berlim não cede as suas provas... por serem secretas! Dir-se-ia que a Alemanha está a provocar uma impossibilidade jurídica por ocultação de provas do eventual crime.
Mas o que, de facto, está a fazer, é uma grosseira provocação à Rússia.
Aristides Fernandes – Reuter – 26 de fevereiro de 2021
QUE DIFERENÇA DE OPINIÕES PARA CASOS SEMALHANTES
2º - A longa detenção do jornalista Julian Assange
Julian Assange, australiano de 50 anos, fundador do “WikiLeaks”, é acusado pela Justiça dos EUA pela Divulgação, a partir de 2010, de mais de 700 mil Documentos Confidenciais sobre Actividades Militares e Diplomáticas do País, em particular no Iraque e no Afeganistão.
Processado em particular ao Abrigo da Legislação contra a Espionagem, Julian Assange enfrenta 175 anos de prisão, num caso denunciado por Organizações de Direitos Humanos como um grave atentado à Liberdade de Imprensa.
O advogado do fundador do Wikileaks, Julian Assange, alegou hoje perante o Tribunal Superior de Londres que o cliente não deve ser extraditado para os Estados Unidos, porque está a ser processado por “crimes políticos”.
Segundo Edward Fitzgerald, existe um “risco real” de sofrer uma violação “flagrante” dos seus direitos fundamentais.
O governo britânico autorizou a transferência de Assange para os EUA em junho de 2022, mas o fundador do WikiLeaks está a tentar todas as vias possíveis para impedir a sua transferência.
A mulher de Assange, Stella, participou numa manifestação no exterior do tribunal.
“Não há qualquer hipótese de ele ter um julgamento justo se for extraditado para os EUA”, disse aos jornalistas, acrescentando que “esta farsa tem de acabar”.
Segundo os seus apoiantes, permitir a extradição seria “criminalizar o jornalismo de investigação”, uma vez que as acusações têm origem em material secreto publicado em 2020 e 2021 pela Wikileaks.
Assange enfrenta uma série de acusações por violar a Lei de Espionagem dos EUA e arrisca-se a uma pena de até 175 anos numa prisão de segurança máxima.
“É um ataque à verdade e ao direito do público de ser informado”, afirmou Stella Assange.
O advogado também questionou a legalidade da extradição, que se baseia num tratado bilateral entre os EUA e o Reino Unido, referindo que “é um abuso processual pedir a extradição por um delito político”, um ponto que é explicitamente mencionado no tratado.
Fitzgerald afirmou ainda que, caso o julgamento seja retomado nos tribunais britânicos, irá expor um alegado plano da CIA para assassinar Assange durante os anos em que este esteve escondido na embaixada do Equador em Londres.
“Ele está a ser processado por se envolver numa prática comum no jornalismo de obter e publicar informações confidenciais, informações que são verdadeiras e de interesse público”, justificou.
SBT Brasil
21/02/2024 às 20h22
A Justiça britânica adiou a decisão do último recurso de Julian Assange para evitar a extradição aos Estados Unidos.
Pelo segundo dia, o australiano deixou de comparecer à audiência alegando motivos de saúde e os juízes da Suprema Corte de Londres não emitiram um parecer, afirmando que precisam de mais tempo para analisar o caso.
Julian Assange está em um presídio de segurança máxima desde 2019, acusado de espionagem pelos Estados Unidos. Se extraditado, pode pegar até 175 anos de prisão.
Ele é fundador do site WikiLeaks, onde foram divulgados milhares de documentos secretos, entre eles, alguns referentes a abusos cometidos pelo exército americano no Oriente Médio. A defesa do australiano afirma que Assange expôs crimes e denuncia uma suposta perseguição.
Os advogados tentam recorrer a uma lei britânica que impede a extradição por motivos políticos. Como todos os recursos na Justiça britânica estão esgotados, se a Suprema Corte negar o pedido, Assange pode ser enviado aos Estados Unidos poucos dias após a decisão. A última opção da defesa seria recorrer a uma medida de emergência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que tem sede na França.